Amigos em comum. Era tudo o que
eles tinham. Era tudo o que ela achava que eles tinham em comum. Nem amigos
entre si eles eram. Quatro, cinco, dez vezes eles acabaram se esbarrando. Os
amigos de quando em quando marcavam jantares, baladas, passeios. Assim eles
foram se tornando mais próximos.
Ela começou a rir das piadas
dele. Ele percebeu e começou a fazer mais e mais piadas. Em uma madrugada fria
ele ofereceu carona pra casa. Ela aceitou e percebeu que a playlist dele se
enquadrava aos gostos dela. Combinaram de sair para ouvir boa música “qualquer
dia desses”.
No dia seguinte um amigo a
comunicou sobre um show que teria na cidade vizinha, “o surto”. E foram todos
juntos. Ela ficou alegre, pois o “qualquer dia desses” chegou rápido; a música
era de fato boa. A banda engraçada. Riram. Ele ofereceu carona novamente. Ela
já se sentia confortável no carro dele. Conversaram muito mesmo. Marcaram um
jantar japonês para a noite seguinte.
Ela passou o dia alegre por saber
que partilhavam do mesmo gosto culinário. Ele contou os minutos para a noite
chegar. No horário marcado, ele abriu a porta do carro para que ela entrasse e
a cumprimentou com um beijo na testa. No restaurante, fez o pedido da bebida
sem que ela sugerisse algo. E acertou em cheio. Beberam a cerveja preferida de
ambos.
Passaram a trocar mensagens de
WhatsApp, fotografias do dia a dia, desejos de “boa noite” e “bom dia”. Ela
chamava os amigos pra sair quase que diariamente a fim de vê-lo. Ele passava o
tempo todo olhando nos olhos dela. Ele roubou um beijo. Ela retribuiu.
Ela se sentia uma princesa. Ele
agia como um verdadeiro príncipe. Passavam muito tempo juntos, todos os dias.
Viajaram. Fizeram planos. Estavam cada vez mais próximos, cada pouco mais felizes.
Tornou-se uma espécie de vício. Não se imaginavam mais sozinhos.
Um dia um amigo em comum ligou.
Avisou que sentia falta dos dois. Chamou-os para sair. Eles foram. Ele percebeu
que sentia falta da sua vida com os amigos. Surtou! Pediu a ela espaço, e se
foi. Ela sentiu falta dos abraços durante o sono. Das mãos dele no cabelo dela.
Das brincadeiras. De implicar com o sorriso dele. Dos presentes. Do café da
manhã. Ela sofreu calada. Ele reencontrou um outro alguém. E sofreu ainda mais,
porque aquele alguém não era ela.
Um bom tempo depois,
coincidentemente, ambos toparam sair com os amigos em comum. Na chegada um
percebeu a presença do outro, o perfume. Ele se desculpou. Ela o desculpou. Os
amigos compreenderam. Compreenderam que estavam errados quando diziam que ela
tinha o “coração de mármore” e que ele não sabia amar.
Hoje eles entendem que são
fundamentais um para o outro. Saem com os amigos semanalmente. Descobriram que
esses amigos são apenas um dos pontos em comum entre os
dois. E que de tantos pontos em comuns, formam-se retas entre ambos. Retas que
constroem uma estrada. Uma bela estrada para uma vida toda.