Dentre os maiores amores da minha
vida, estão (sem dúvidas) os sapatos. Quanto meus focos de ódio, certamente o
maior no momento seja uma disciplina chamada patologia. A qual, há três longos
anos atormenta minha vida.
Há alguns meses passei por uma
vitrine e meu olho brilhou. Um sapato maravilhoso da Schutz, Passei um tempo ali, encanta e em seguida fui
pra faculdade assistir aula de
patologia. No caminho liguei pro meu pai contando sobre o novo amor da
minha vida,“SCARPIN RETRÔ
DIVA HIGH RED” , era o
nome dele. Contei o valor e lembrei que meu aniversário estava se aproximando.
Rimos e terminamos o telefonema. O assunto se encerrou por aqui.
Nessas últimas semanas, estou
passando por provas de encerramento de ano. Meu pai me liga toda a noite
fazendo as mesmas perguntas: “Filha, qual a matéria da prova de amanhã? Precisa
de muita nota? Está preparada?”. E minhas respostas se repetem “Ainda não sei
muito bem a matéria pai. Preciso de um ponto ou dois, no máximo três para ser
aprovada nesta disciplina. Amanhã dou um jeito. Estou estudando patologia”. E
assim passar as semanas até hoje, estudando patologia todo dia, toda hora. E
dando meu jeito no resto todo.
Na semana passada, meses depois
do meu encontro com o sapato e oito dias antes da minha primeira (de três)
prova de patologia, acordei com um whatsApp do meu pai. No meio de erros de
digitação e seus trejeitos lingüísticos, ele me dizia mais ou menos o seguinte
(simulando um diálogo entre nós) “Oi, queria tanto o sapato. Mas não vou pedir
pro meu pai não, é muito caro posso ficar sem! O que você esqueceu, minha
filha, é que você e seu pai tem muita sintonia e você não precisa pedir nada.
Na hora certa as coisas acontecem. Confira sua conta do BB.”. Chorei, sorri,
conferi. R$ 350,00 reais depositados, o valor exato do Scarpin da Schutz.
Como uma boa filha, fui pra aula
e na volta passei na loja. Comprei o sapato e mandei uma foto pra ele. Ele me
ligou em seguida. Dizendo (do jeitinho dele) que era pra eu estudar pato com o
sapato por perto. Lembrar que existem coisas boas. Que dificuldades nos
proporcionam surpresas. E que toda a vez que eu ficasse nervosa devido à
patologia, era pra me lembrar do sapato.
Naquela noite me arrumei e sai
para inaugurar o sapato. Nas noites seguintes, estudei patologia com meu sapato
dentro do meu campo visual. Feliz, muito feliz. Não pelo sapato, mas pelo pai
que tenho! Um pai que sabe como agir, que sabe como me conduzir, que sabe como
me fazer aprender conteúdos, que me arrastou até aqui; na boca do internato! Eu
olho pra essa caixa de sapato do lado do livro de patologia e choro. Minha gratidão
é imensurável. Não – de forma alguma – pelo simples presente material que
recebi. Mas por tudo o que esse presente representa. Pela maneira que meu pai
consegue se fazer presente mesmo “milhas e milhas distante”. Pela forma que ele
me anima a cada tropeço meu. Por seu poder sobre mim, sobre minha mente, sobre
meu humor. Gratidão talvez seja a palavra para descrever meu sentimento. Mas
parece que gratidão é pouco.
Enfim, hoje finalmente fiz a
temida prova de patologia. E tomei ferro! Meu desempenho foi péssimo. Passei o
resto do dia me sentindo inútil, retardada, imbecil. Cheguei em casa vi a caixa
do sapato e as lágrimas foram inevitáveis. Não liguei pro meu pai, como faço
depois de toda a prova. Tive vergonha de admitir o quanto fui incompetente.
Entretanto, há alguns minutos ele me ligou. Reclamando da minha ausência.
Encabulada contei o ocorrido, esperando ouvir no máximo um “poxa filha, terão
mais oportunidades”.
Porém o que eu ouvi foi o
seguinte: “Minha filha, compra um litro de Vodka e chama ele de patologia. Beba
inteiro e no fim comemore. Você acabou com a patologia!”.
Nomeei uma garrafa de Corona
Extra de patologia. Porque amanhã preciso estar bem para retomar os estudos e
recuperar a nota. Estou olhando para o meu sapato lindo maravilhoso e já ACABEI
COM A PATOLOGIA pai!