quinta-feira, 21 de maio de 2015

A pato e o sapato

Dentre os maiores amores da minha vida, estão (sem dúvidas) os sapatos. Quanto meus focos de ódio, certamente o maior no momento seja uma disciplina chamada patologia. A qual, há três longos anos atormenta minha vida.
Há alguns meses passei por uma vitrine e meu olho brilhou. Um sapato maravilhoso da Schutz,  Passei um tempo ali, encanta e em seguida fui pra faculdade assistir aula de  patologia. No caminho liguei pro meu pai contando sobre o novo amor da minha vida,“SCARPIN RETRÔ DIVA HIGH RED” , era o nome dele. Contei o valor e lembrei que meu aniversário estava se aproximando. Rimos e terminamos o telefonema. O assunto se encerrou por aqui.
Nessas últimas semanas, estou passando por provas de encerramento de ano. Meu pai me liga toda a noite fazendo as mesmas perguntas: “Filha, qual a matéria da prova de amanhã? Precisa de muita nota? Está preparada?”. E minhas respostas se repetem “Ainda não sei muito bem a matéria pai. Preciso de um ponto ou dois, no máximo três para ser aprovada nesta disciplina. Amanhã dou um jeito. Estou estudando patologia”. E assim passar as semanas até hoje, estudando patologia todo dia, toda hora. E dando meu jeito no resto todo.
Na semana passada, meses depois do meu encontro com o sapato e oito dias antes da minha primeira (de três) prova de patologia, acordei com um whatsApp do meu pai. No meio de erros de digitação e seus trejeitos lingüísticos, ele me dizia mais ou menos o seguinte (simulando um diálogo entre nós) “Oi, queria tanto o sapato. Mas não vou pedir pro meu pai não, é muito caro posso ficar sem! O que você esqueceu, minha filha, é que você e seu pai tem muita sintonia e você não precisa pedir nada. Na hora certa as coisas acontecem. Confira sua conta do BB.”. Chorei, sorri, conferi. R$ 350,00 reais depositados, o valor exato do Scarpin da Schutz.
Como uma boa filha, fui pra aula e na volta passei na loja. Comprei o sapato e mandei uma foto pra ele. Ele me ligou em seguida. Dizendo (do jeitinho dele) que era pra eu estudar pato com o sapato por perto. Lembrar que existem coisas boas. Que dificuldades nos proporcionam surpresas. E que toda a vez que eu ficasse nervosa devido à patologia, era pra me lembrar do sapato.
Naquela noite me arrumei e sai para inaugurar o sapato. Nas noites seguintes, estudei patologia com meu sapato dentro do meu campo visual. Feliz, muito feliz. Não pelo sapato, mas pelo pai que tenho! Um pai que sabe como agir, que sabe como me conduzir, que sabe como me fazer aprender conteúdos, que me arrastou até aqui; na boca do internato! Eu olho pra essa caixa de sapato do lado do livro de patologia e choro. Minha gratidão é imensurável. Não – de forma alguma – pelo simples presente material que recebi. Mas por tudo o que esse presente representa. Pela maneira que meu pai consegue se fazer presente mesmo “milhas e milhas distante”. Pela forma que ele me anima a cada tropeço meu. Por seu poder sobre mim, sobre minha mente, sobre meu humor. Gratidão talvez seja a palavra para descrever meu sentimento. Mas parece que gratidão é pouco.
Enfim, hoje finalmente fiz a temida prova de patologia. E tomei ferro! Meu desempenho foi péssimo. Passei o resto do dia me sentindo inútil, retardada, imbecil. Cheguei em casa vi a caixa do sapato e as lágrimas foram inevitáveis. Não liguei pro meu pai, como faço depois de toda a prova. Tive vergonha de admitir o quanto fui incompetente. Entretanto, há alguns minutos ele me ligou. Reclamando da minha ausência. Encabulada contei o ocorrido, esperando ouvir no máximo um “poxa filha, terão mais oportunidades”.
Porém o que eu ouvi foi o seguinte: “Minha filha, compra um litro de Vodka e chama ele de patologia. Beba inteiro e no fim comemore. Você acabou com a patologia!”.

Nomeei uma garrafa de Corona Extra de patologia. Porque amanhã preciso estar bem para retomar os estudos e recuperar a nota. Estou olhando para o meu sapato lindo maravilhoso e já ACABEI COM A PATOLOGIA pai!

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Sintonia

O encanto dura enquanto há o “fator encantador”.  O místico. O fantástico. O intrigante. O sedutor.  O diferente. O inesperado. O surpreendente. A sintonia. Ah, a sintonia... Exatamente como explica o dicionário: “Igualdade de frequência entre dois sistemas de vibrações.”.
Visto que o que move o mundo é a energia – tanto física quanto filosoficamente falando – podemos concluir que sintonizar com alguém garante uma soma de energias tão perfeita que o mundo passa a girar na velocidade ideal. Damo-nos conta de que estamos nessa tal sintonia através dos pequenos truques do destino, o qual, como disse Chorão, “brinca com as pessoas”. Palavras ditas no mesmo momento, ideias surpreendentemente semelhantes, aquela coisa de você pegar o celular pra ligar e nesse momento ele tocar, e o personagem se repete no sonho e quando você acorda descobre que também foi tema do sonho desse alguém.
E esse encanto é lindo. Tão lindo quanto passageiro. O que o quebra de vez, são os rótulos. Uma vez alguém me disse algo do tipo “há muito solteiro morrendo de amor e muito casal desapaixonado”. A mais pura verdade. Não que alguém seja culpado, mas o encanto naturalmente acaba um dia e é difícil – demais - ter coragem para virar a página e se deixar encantar de novo, por um outro alguém.

E se eu pudesse dar um concelho a essa humanidade perdida eu diria: Permita-se, encante-se, ressintonize!