quinta-feira, 13 de agosto de 2015

o meu amor

O meu amor é tão plano que minha complexidade  o complica.
Esquece datas, horários e papéis.
Não sabe a ordem dos meses do ano. Nem o número do mês do meu aniversário.
Garante que o tempo é linear. Não se adapta aos ciclos temporais.

‘O meu amor não telefona’ só pra dizer “eu te amo”.
Insiste em afirmar que celular foi feito pra mandar recado. SMS pra dar avisos rápidos.
Raramente ocupa todos os caracteres disponíveis nas mensagens de texto.
Não lê mensagens longas e melosas, mesmo que despertem alguma curiosidade.

O meu amor é a pessoa mais linda que meus olhos já viram.
Me faz perder o foco quando usa camisas de botão e tênis.
Torna-se uma verdadeira escultura quando sai encabulado de casa usando havaianas e boné.
Tem um sorriso bobo que se aperta em sua boca pequena, moldada pela barba por fazer.

O meu amor não liga pra datas comemorativas. E não tem a mínima noção de tempo.
Dificilmente me presenteia conforme o esperado.
Jura que essas datas são frutos do consumismo exacerbado.
Ah, eu concordo. Mas, ele recebe presentes.

O meu amor é tão inocente a ponto de fazer com que o ciúme ocupe, periodicamente, o espaço da minha inteligência.
Não vê a maldade de sorrisos espertos.
Nem as “segundas intenções” do universo feminino.
É o protagonista perfeito para a música “Garotos” – Cazuza.

O meu amor não passa a mão nas minhas pernas, nem me beija em público.
Ele passa a mão no meu cabelo e me beija na testa antes de sair.
Tem pânico à  salto Anabela, pijamas, bandagem, paetê e roupa muito curta.
Adora sapatilhas (argh!), tênis novo e pouquíssima maquiagem.

O meu amor não me trata como uma princesa.
Não dorme de conchinha por mais de meia hora.
Não faz questão de aproveitar ao máximo a minha companhia a cada segundo juntos.
Não me acorda com beijinho e não me liga à noite pra perguntar como foi meu dia.

O meu amor não quer se casar na igreja.
É ateu o suficiente.
E não vê vantagem em pagar festa ‘pros outros’.
Ah, o meu estranho amor.

O meu amor mora longe, há muito tempo.
Esquece-se de me visitar, de me ligar, de se mudar.
Tem uma vida totalmente independente da minha. E eu tenho da dele.
E, por pura opção, a gente junta nossos universos quase que o tempo todo.

O meu amor discute muito comigo.
Até se cansar.
Sobre novela, política, matemática, clima, comportamento...
Às vezes a gente até faz fofoca.

O meu amor é o pior amor do mundo.
Mas ele tem as duas mãos que me faltavam.
É minha cabeça extra.
E “se encaixa perfeitamente em mim”.

O meu amor não é minha cara metade. 
Ele é meu oposto.
É tudo o que eu espero de alguém.
Tudo o que eu queria.


O meu amor se tornou tudo o que eu sempre idealizei.
Eu não estava preparada, me assustei. Até quis fugir.
Garanto, é bem mais fácil manter o homem perfeito vivo só na imaginação.
É aterrorizante, “empolgante”, impactante, emocionante, perceber que para tê-lo pra sempre eu só preciso ser eu mesma.