Café. Coca-Cola. Coca-Cola. Coca-Cola.
Red Bull. Narguilé. Um Malboro pros dias difíceis. Ritalina. Stavigile.
Quetiapina 25mg, 50mg, 100mg. Coques. Musculari. Prebictal. Neozine.
Sertralina. Haldol. Pros dias de estudo, de descanso, de neurociatalgia, de
insônia, de tristeza ou de pressa. Raves de 18 horas. Cervejadas insanas. Shows
de Rock intermináveis com ídolos nacionais e desconhecidos. Amores de uma noite
toda. Um amor pra vida toda, ou uma cicatriz pra vida toda – sempre álgica 10/10,
mas linda como a lua. Cerveja. Whiskey. Grey Gosse. Sagatiba. Vodka de sabor.
Gelatina de Vodka. Madrugadas de estudo. Estágios não remunerados. Faculdade
método “Manuela EAD”. Plantões ininterruptos de 72horas. Celular 24 horas por
dia, sete dias por semana disponível para auxílio no atendimento de urgência e emergência.
RCP com massagem cardíaca de qualidade. Hipoglicemia crônica. Jejuns intermitentes.
Abdome negativo. Fome pra perder as bochechas. Corpo rabiscado. Coração
ciclotômico. “Alma de pipa avoada”. Três meses de contraceptivo hormonal oral
esquecido. DUM: 09/06/2018. Beta hcg “BEM” positivo.
Uma gestação.
E foi ai que tudo mudou meu
filho. Há quem diga que eu aproveitei minuciosamente cada fase dos meus 27 anos
e “agora chega”. Eu te digo que eu aproveitei sim, loucamente, cada fase. E
agora continua. Mas, com você. Está sendo absolutamente difícil deixar de lado
quase todo o primeiro parágrafo. Especialmente a Coca-Cola. Tô curtindo. Cada
náusea. Cada vômito que precede a segunda metade da xícara do café da manhã. Cada
pesadelo com placenta prévia.
Ainda não consegui ver graça em
listas de nomes e seus significados (até porque seu nome já está definido de
antes de você se tornar embrião). Nem em decoração de quarto infantil. Ou em
cantigas infantis. Mas confesso que estou me esforçando para dar continuidade
na leitura de um livro sobre maternidade. Que baixei o I wish e comprei um elefantinho para bebês. Que me precipitei e já comprei
um berço. E que sonho com seu rostinho em formação.
Poderia te pedir desculpas por
não ser uma mãe de propaganda de margarina. Porém não vou me desculpar, pois não
quero ser. Quero ser eu mesma, pra sempre. Te ensinar a não acumular, que o
dinheiro é podre, que existi sim algo grande que as pessoas conhecem por Deus,
que o mundo é cruel e doce concomitantemente. Prometo tentar sempre ser melhor
e continuar te colocando a frente de mim mesma. Na real, prometo apenas sempre
estar por perto.
Não espero que seja um mini lord. Que tire boas notas. Que se
destaque no futebol. Nem que tenha aquela saúde toda que as pessoas falam no “pode
ser menino ou menina, mas que venha com saúde”. Espero só que você venha ficar
comigo. Saudável, torto ou doente. Vou te amar igual. Espero que você seja o
que quiser ser. Que faça o que quiser fazer. Sem o peso de precisar orgulhar
sua mãe. Mesmo porque, eu vivo cheia de orgulho há 10 semanas, mesmo sem você querer.
Filho, desejo que você herde a
pureza do seu pai. A esperteza do seu bisavô. A plenitude do seu outro bisavô. A sabedoria do seu avô. A inteligência dos
seus dois tios (o lado idi de um e o lado ego do outro). A capacidade de amar e multiplicar o amor da sua avó.
O meu jogo de cintura. Se realmente conseguir herdar a genética boa de cada
integrante da nossa família, mais o que eu aprendi com cada um dos meus bons
amigos, você será uma lenda viva.
Porém, se você for um burro
vou te amar igualzinho. Bem vindo ao meu novo mundo meu filho.