quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Um filho em minha vida


Café. Coca-Cola. Coca-Cola. Coca-Cola. Red Bull. Narguilé. Um Malboro pros dias difíceis. Ritalina. Stavigile. Quetiapina 25mg, 50mg, 100mg. Coques. Musculari. Prebictal. Neozine. Sertralina. Haldol. Pros dias de estudo, de descanso, de neurociatalgia, de insônia, de tristeza ou de pressa. Raves de 18 horas. Cervejadas insanas. Shows de Rock intermináveis com ídolos nacionais e desconhecidos. Amores de uma noite toda. Um amor pra vida toda, ou uma cicatriz pra vida toda – sempre álgica 10/10, mas linda como a lua. Cerveja. Whiskey. Grey Gosse. Sagatiba. Vodka de sabor. Gelatina de Vodka. Madrugadas de estudo. Estágios não remunerados. Faculdade método “Manuela EAD”. Plantões ininterruptos de 72horas. Celular 24 horas por dia, sete dias por semana disponível para auxílio no atendimento de urgência e emergência. RCP com massagem cardíaca de qualidade. Hipoglicemia crônica. Jejuns intermitentes. Abdome negativo. Fome pra perder as bochechas. Corpo rabiscado. Coração ciclotômico. “Alma de pipa avoada”. Três meses de contraceptivo hormonal oral esquecido. DUM: 09/06/2018. Beta hcg “BEM” positivo.

Uma gestação.

E foi ai que tudo mudou meu filho. Há quem diga que eu aproveitei minuciosamente cada fase dos meus 27 anos e “agora chega”. Eu te digo que eu aproveitei sim, loucamente, cada fase. E agora continua. Mas, com você. Está sendo absolutamente difícil deixar de lado quase todo o primeiro parágrafo. Especialmente a Coca-Cola. Tô curtindo. Cada náusea. Cada vômito que precede a segunda metade da xícara do café da manhã. Cada pesadelo com placenta prévia.

Ainda não consegui ver graça em listas de nomes e seus significados (até porque seu nome já está definido de antes de você se tornar embrião). Nem em decoração de quarto infantil. Ou em cantigas infantis. Mas confesso que estou me esforçando para dar continuidade na leitura de um livro sobre maternidade. Que baixei o I wish e comprei um elefantinho para bebês. Que me precipitei e já comprei um berço. E que sonho com seu rostinho em formação.

Poderia te pedir desculpas por não ser uma mãe de propaganda de margarina. Porém não vou me desculpar, pois não quero ser. Quero ser eu mesma, pra sempre. Te ensinar a não acumular, que o dinheiro é podre, que existi sim algo grande que as pessoas conhecem por Deus, que o mundo é cruel e doce concomitantemente. Prometo tentar sempre ser melhor e continuar te colocando a frente de mim mesma. Na real, prometo apenas sempre estar por perto.

Não espero que seja um mini lord. Que tire boas notas. Que se destaque no futebol. Nem que tenha aquela saúde toda que as pessoas falam no “pode ser menino ou menina, mas que venha com saúde”. Espero só que você venha ficar comigo. Saudável, torto ou doente. Vou te amar igual. Espero que você seja o que quiser ser. Que faça o que quiser fazer. Sem o peso de precisar orgulhar sua mãe. Mesmo porque, eu vivo cheia de orgulho há 10 semanas, mesmo sem você querer.

Filho, desejo que você herde a pureza do seu pai. A esperteza do seu bisavô. A plenitude do seu outro bisavô.  A sabedoria do seu avô. A inteligência dos seus dois tios (o lado idi  de um e o lado ego do outro). A capacidade de amar e multiplicar o amor da sua avó. O meu jogo de cintura. Se realmente conseguir herdar a genética boa de cada integrante da nossa família, mais o que eu aprendi com cada um dos meus bons amigos, você será uma lenda viva.

Porém, se você for um burro vou te amar igualzinho. Bem vindo ao meu novo mundo meu filho.

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Quando os dias melhores vierem

Vou despertar com os primeiros raios de sol do dia e fechar as cortinas silenciosamente. Cobrir suas costas e voltar a dormir do seu lado. Logo, vou despertar novamente. Mas, dessa vez devido ao aroma do café que você vai estar passando na cozinha.  Um bom dia, um beijo, um gole no café. Assim os bons tempos serão selados.                                              
Passaremos a manhã entre carícias e malícias. Sairemos para o almoço, sem precisar pesquisar preços de restaurantes. A tarde levaremos os cachorros pra passear na área verde enquanto planejamos mais um futuro nosso. No fim do dia a gente conta as moedas para o cigarro. Eu estudo, você desenha. Você estuda, eu leio. Eu navego nos canais da TV, você nas imagens do Google. Você faz um som, eu preparo o jantar.                                                                     
O entardecer não mais será acompanhado de medo, frio na barriga ou ausências. Estaremos lá, nos sábados, nas quartas-feiras e até mesmo nos temidos domingos à noite, sem medo do dia seguinte. Sorrindo. Mas quando digo sorrindo, é sorrindo pra Valer. Sorrindo de barriga cheia, de boca aberta. Juntinhos.                                                     
No decorrer da noite, conseguiremos manter nossa concentração nos nossos afazeres rotineiros. E nenhum sentimento ruim vai conseguir entrar pela porta de casa, apenas o som do móbili na varanda.                                   
Finalmente, na hora de dormir, eu prometo que já terei aprendido a não monopolizar o cobertor. Vamos nos beijar, com a certeza de que nenhum desejo foi apensas desejado. Você apertará minha mão bem forte para adormecer. Eu farei silêncio absoluto pra contar sua frequência respiratória e pegar no sono. E eu vou continuar pedindo pra "um Deus" te trazer uma boa noite de sono.       
Enquanto isso, hoje, eu te prometo meu amor...vai ficar tudo bem!      ❤                                    

domingo, 22 de janeiro de 2017

O maior amor do mundo

É como se andássemos calmamente, de mão dadas, circulando uma casinha de gás de cozinha. Ele com um gigante galão de gasolina, derramando o líquido por onde passamos. Eu com uma pequenina caixa de palitos de fósforo, pronta para riscar um deles subitamente.
Enquanto isso, lá estamos nós. Nos beijando, dançando, cantando e rindo. Fazendo planos, promessas e sonhos. Observando delicadamente a beleza um do outro, os seus detalhes mais sutis. Alguém que nos vê jura que somos sinônimo de amor eterno, leve e calmo.
E então, em um momento qualquer, eu resolvo riscar um dos palitos na caixa. A explosão é quase ensurdecedora. Estamos lá, só nós dois, no meio de muito fogo. Gritando e nos  estapeando. Correndo de um lado pro outro e proferindo palavrões. Alguém que nos vê jura que é nosso último momento juntos, que somos desequilibrados e não estamos em sintonia.
Em seguida, o fogo acalma. Ele me entrega meus palitos de fósforo e pega seu galão de gasolina. Voltamos a nos beijar, com mais vontade ainda que anteriormente. Começamos a concretizar alguns dos planos e a fazer outros. Observo um lindo detalhe em seu rosto que ainda não havia percebido e apresento a ele um sorriso meu que ele ainda não conhecia.
Seguimos nosso caminho perigosamente descompassados. Segurando cada vez mais forte a mão um do outro. Sem saber o que faremos no dia seguinte. Sem saber quando vou riscar o próximo palito. Sem saber quando a gasolina vai acabar. Alguém que nos vê jura que não entende absolutamente nada.

É o maior amor do mundo!

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Ela e Ele

Uma fresta na janela deixou que os primeiros raios de sol da manhã atingissem seu rosto. Ela abriu seus olhos - negros como a noite - e notou que sua mão repousava sobre as costas dele.  Imediatamente começou a arranhá-lo lentamente com suas longas unhas esmaltadas em vermelho sangue. Ele despertou. Beijaram-se. Ela sentia borboletas no estômago.
Ele tomou uma ducha enquanto ela preparava o café ao som de Maria Bethânia. Sentaram-se para comer. Ele vestiu a camisa, cobrindo a tatuagem que ela tanto gostava de admirar. Disse que precisava ir. Que um dia desses “se esbarravam por aí”. Bateu a porta.

Ela se deitou na cama para sentir o cheiro que ele tinha deixado. Mais uma vez, precisou engolir o choro. Sabia que em breve acabariam passando mais uma – de tantas – noite juntos. A verdade é que ela o amava. Loucamente. Enfim, ela calçou os sapatos e foi para o trabalho.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Eu piro

Um dia alguém me falou que a gente não se apaixona pela pessoa inteira, mas por cada pedaço dela. Que o apaixonado vê detalhes que só o apaixonado vê. E pira nesses detalhes. Eu piro em você. No todo. Nos pedaços. Nos detalhes. E até no que não existe ainda.
Piro na sua boca fechada. No desenho dos seus lábios. Em te ver dormir enquanto contorno seus lábios com meus dedos, com todo cuidado do mundo pra não te despertar. Piro na sua boca aberta. Seus dentes num sorriso encabulado. E em como ela se encaixa na minha.
Piro quando você tira a camisa. Nos rabiscos no teu corpo. No seu peito expandindo em uma respiração rápida. Piro nos seus braços. Em dormir neles. No relevo das veias no seu antebraço (ah como eu amo isso!). Em suas mãos que carregam tantas histórias. E quando você espalha essas histórias pelo meu corpo todo. Quando você passa a mão lentamente nos meus cabelos até que eu pegue no sono.
Piro no seu cabelo. Grande ou pequeno. No seu cheiro. No aspecto da sua pele. No seu pescoço (ah!). No jeito que você segura a minha mão. No jeito que você me beija. No seu abraço. Em quando você me surpreende...
Mas eu piro mesmo é em você, de samba canção, fumando um cigarro na janela sentado na cama. Eu poderia ficar olhando pra essa cena por dias e dias. Viajando. Nas mais absurdas fantasias. Nas mais loucas cenas de amor. Nos mais íntimos detalhes de uma vida toda juntos.

Eu piro em você, bonito! E quanto mais perto você estiver de mim, mais perto vou querer estar. E que seja assim, um prazer sem fim!

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Só agradece!



Um amigo me ensinou a montar uma análise da sua própria vida a partir de um esquema de pontos. Onde cada ponto representa uma pessoa, ou um episódio da sua vida. Que leva ao ponto seguinte. Funciona como uma grande rede de pontos. Que visualmente te mostra como você chegou até aqui. As perdas, os ganhos, as pessoas que surgiram, as que sumiram. É extremamente interessante, pois te faz enxergar onde estão os erros. E quais as pessoas te fizeram um favor em sair da sua vida.
Este mesmo amigo vive um grande amor. E ao analisarmos a rede de pontos dele, percebemos que “quase sem querer” sua ex-namorada foi quem o jogou nos braços do amor da sua vida. Um vacilo da ex o fez se mudar de cidade. Entre uma mudança e outra ele esbarrou em seu amor numa estação rodoviária. Com a mudança de cidade ele acabou mudando de emprego. O novo emprego o fez mudar novamente, ele acabou enfim na mesma cidade da menina com quem ele vive hoje, em outra cidade ainda.
Fiquei intrigada por um tempo com essa história toda. Em como a gente sofre profundamente em certos episódios que deveríamos na verdade estar agradecidos. É possível que uma reprovação te renda novos amigos. Que um incidente abra portas de oportunidades. Que um mês sem grana te mostre que você pode sobreviver com muito menos. Que o fim de um relacionamento te faça encontrar o amor da sua vida.
Hoje aqui divagando, deixo o besta conselho de que devemos “enxergar o lado bom das coisas”; como dizem os populares.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Segunda versão



Aquele dia tinha sido cansativo demais, eu precisava reunir minhas amigas pra esquecer do mundo um pouco. No meu bar preferido iria tocar uma banda que eu tinha assistido uma vez e não curtido muito. Resolvi ir pra lá mesmo assim, dar uma nova chance à banda. Chegamos cedo, sentamos no meio do bar. De tempos em tempos eu levantava com alguma amiga - ou sozinha - pra sair do meio da "muvuca" e dar uma respirada, sem nem reparar na galera que estava em minha volta.

O show começou. Lá de fora o repertório me pareceu bem mais interessante que eu lembrava. Chamei uma amiga pra ir ver a apresentação mais de perto. A banda estava mandando realmente bem. Passamos o restante do show na frente do palco. Entre um comentário e outro com minha amiga, eu olhava pro palco. Os meninos da banda eram bonitos e me encantavam com a expressão de contentamento no que estavam fazendo. Fico admirada com gente que ama o que faz. Troquei vários olhares, mas nenhum me chamou atenção.

Quando o show acabou eu já havia esquecido do mundo lá fora. Estava feliz.  E já embriagada o suficiente pra ser simpática com todo mundo. Fiz vários "amigos de bar". Encontrei vários conhecidos. E me perdi no meio de todas aquelas pessoas interessantes/desinteressantes. Já no fim da noite, sentei no muro no canto do bar. Estava cansada, esperando minhas amigas para voltar pra casa. Neste momento um menino se sentou do meu lado, com um bom papo. Ele me disse que era o baixista, não consegui lembrar do rosto dele.

Eu não sorri pra ele, porque minha cota de sorrisos da noite já havia se esgotado. Mas trocamos uma ideia bem envolvente. Até ele mandar uma cantada muito ruim e eu dar um fora ainda pior. Entretanto, antes de ir embora ele pediu meu celular, passei. Queria manter contato, ele parecia legal; lembrava meus amigos. Horas depois, quando me acordei, ele havia mandado whatsApp. Respondi cordialmente. A conversa fluiu como se realmente fossemos amigos de longa data.

No meio da semana me chamou pra um role. Percebi que ele estava querendo algo a mais que amizade. Inventei que tinha uma amiga a fim dele, pra despistar. Porém, eu já estava programada pra ir neste mesmo role. Fui. Com a intenção de nem me aproximar dele durante a noite. Acabamos sentando na mesma mesa. Dividindo os amigos. Foi uma noite bem irritante. Ele me deu pouca atenção. Eu senti muito sono.

No fim da noite ele chamou a mesa toda para um evento no sábado seguinte. Aceitei, mesmo sabendo que estarei em viagem nesta data. Avisei encima da hora que não iria. Percebi que ele ficou chateado e me preocupei. Preocupei com o estado de espírito dele, com a felicidade dele. Senti medo de perdermos o contato.

Mais uma semana se passou. Não deixamos de nos falar. Mais um sábado chegou. Era o aniversário de um grande amigo, estava combinado que a comemoração seria em um bar da cidade. Porém, fiquei sabendo que ele iria tocar em uma balada. Convenci meu amigo em mudar o local da comemoração. Fingi surpresa e pedi pra que ele colocasse meu nome na lista. Esperei um abraço antes do show. Não ganhei. Durante o show percebi que ele estava distante. Senti ainda mais vontade de abraçar. Percebi que estava apaixonada.

A festa acabou. Esperei pelo abraço. A balada esvaziou. Ele recolheu tudo o que estava no palco e nem olhou pra mim. Permaneci ali sentada com duas ou três amigas. Combinei com uma delas que iria esperar por ele até determinado horário. Algo me dizia que ele não iria me decepcionar. Faltando cinco minutos para vencer meu prazo ele veio até mim e me abraçou. Meu mundo parou.


Foram vários abraços. Demorados. Tentou uma, duas, três vezes roubar um beijo. Na quarta tentativa conseguiu. Retribuiu à altura do desejo dele. E desse beijo em diante, meu mundo agora já não é mais só meu.