terça-feira, 19 de abril de 2016

Um desabafo amoroso

Sabe de uma coisa? Eu tô achando que vai ser pra sempre assim. Quando a adrenalina baixar, o whatsApp travar, o coração esvaziar,é de você que eu vou me lembrar. Quando eu não tiver com quem gritar. Quando meu cachorro rosnar. Quando o café esfriar. Quando o natal chegar. Quando a TV queimar. Quando alguém se casar. Quando eu chorar.
Confesso que já não recordo grandes coisas. Acho mesmo que já nem lembro sua voz, sua estatura ou o desenho do seu rosto. Mas existem detalhes que insistem em não se deixarem esquecer.  E ainda procuro estes detalhes, estes malditos detalhes, em corpos errados. Seus lobos auriculares que são, em concomitância, recessivo e dominante. As entradas no cabelo. Os olhos - insistentemente - de sono. Os dedos dos pés colados, como pés de pato. As costas largas (ah!!!). A clavícula fraturada.
Repetidamente, meses seguem alegremente. Eu seco garrafas e mais garrafas de cerveja. Ouço músicas e mais músicas diferentes. Conheço pessoas e mais pessoas interessantes. Beijo bocas e mais bocas apaixonantes. Frequento baladas e mais baladas alucinantes. Experimento sensações e mais sensações intrigantes. Porém, de quando em quando, ouço algum refrão que me lembra de você. Uma opinião política, um descoberta científica, ou até um lançamento cinematográfico, que eu queria dividir com você. Admito esse “quando em quando” tem se tornado cada vez mais infrequente. Mas, parece que cada vez mais pesado.
Morro de vontade de lhe enviar um SMS com a dica “coloque a camisa por fora do cinto”, ou “não use sapatos tom sobre tom com a calça”, ou ainda “apare a barba e não deixe o cabelo cair na testa, fica feio!”. Mas, engulo minhas dicas e fico aqui, permitindo ao meu novo eu rir do seu novo você. Inclusive, meu novo eu é tão diferente do antigo, por dentro e por fora, que, sinceramente, acho que se você me conhecesse só hoje odiaria. Ou amaria.
Antigamente, pensava que as pessoas que me conhecessem sem conhecer você não me conheceriam por inteiro. Hoje, estou certa de que quem me conheceu enquanto você estava na minha vida me conheceu de mentira. Fico aqui pensando se aquele “ser pedante” que eu namorei tanto tempo também era só um personagem. Se você também se tornou alguém mais interessante. Se cresceu, se aprendeu.
Fico aqui, no meu silencio gritante, matutando. Ainda busco “porquês”. Porque teve de ser tão brusco. Porque eu aceitei tão fácil isso tudo, mesmo sem ainda entender. Porque fiz tantos planos com você. Sabe, consigo pensar em infinitas trilhas sonoras que descreveriam meu sentimento muito melhor que este texto... Enfim, o que eu queria um dia poder lhe dizer é que sinto uma saudade esquisita. Pra citar Renato Russo, “E é só você que tem a cura pro meu vício de insistir nessa saudade que eu sinto de tudo o que eu ainda não vi”. Não chega a ser falta de você. Menos ainda vontade de seguir a vida a seu lado. Credo, não mesmo. Talvez seja um sentimento que ainda não tenha nome, que tem como queixa principal aperto no peito.

Em uma cena de alguma novela do Manuel Carlos, uma personagem chamada Helena dizia para seu amado algo como “Em todos esses anos distante de mim, quando você ouvia o nome ‘Helena’, na fila da padaria, numa lista de contatos, não se lembrava de mim?”. Pois saiba meu caro, quando ouço seu nome por aí, até me lembro de muitos charas seus que conheço, dificilmente de você. Porém, quando ouço a palavra musa, ou quando alguém me chama de (quase minha família toda e meus bons amigos me chamam assim) lembro quem eu era quando estávamos lado a lado. E dói, dói muito.